E eis que o final de 2018 chegou! Independentemente de filosofias religiosas, as viradas de ano sinalizam momentos de reflexão, de revisão, de perspectivas de mudanças. E, para muitas pessoas, o janeiro que logo depois se anuncia na virada do dia 31 de dezembro é um recomeço. Apesar de existir a expressão popular de que, no Brasil, a máquina só funciona depois do Carnaval. E, em 2019, o Carnaval acontecerá em março!
Mas como será a transição de 2018 para 2019 para os e as artistas? Bem, não é preciso ser astróloga ou taróloga para tecer algumas considerações. O final de ano é de muito trabalho para muitas pessoas. A virada de ano igualmente é de esperanças, claro. Contudo, a despeito do dito popular, os e as artistas já começam com bastante o que fazer bem antes do Carnaval. Aliás, artistas também fazem o Carnaval, assim como as festividades natalinas que, em Santa Maria, tiveram ampla programação gratuita e aberta à população da cidade.
Editais, contratos, elaboração de projetos, criação e ajustes de planilhas de custos, visitas e propostas para clientes em potencial, estabelecimento de parcerias. Para quem desenvolve atividades na academia ou trabalha em escolas, preparação de ementas de disciplinas, planos de aulas, atualização de leituras e de currículos, organização de cronogramas. Ah, sem falar nos processos criativos, que nunca param! Trabalho, muito, mas muito trabalho. Tudo deve ser preciso e qualquer desatenção pode colocar até mesmo um ano inteiro a perder.
Para quem vai a uma exposição, como no Museu de Arte de Santa Maria, por exemplo, os trabalhos compartilhados fazem parte de trajetórias e pesquisas artísticas de meses, anos, de toda uma vida.
Quem teve a oportunidade de ir ao último Santa Maria Vídeo e Cinema, pôde fruir de curtas e longas metragens que, certamente, não foram feitos apenas por duas mãos e, tampouco, numa semana. E, no Theatro Treze de Maio, no Espaço Cultural Victorio Faccin e no Teatro Caixa Preta - apenas para citar alguns dos espaços artísticos e culturais de Santa Maria - ao longo de 2018, foram compartilhados diversos processos de criação e realizações, como da música, do teatro, da dança, do circo.
Ou seja, espetáculos com muitas pessoas e vidas envolvidas, antes mesmo do soar dos três toques da campainha. Sem falar, ainda, no que acontece pelas ruas da cidade, nas intervenções em praças, sejam elas manifestações de caráter menos ou mais independente, como a Batalha dos Bombeiros, que acontece e habita há anos a Praça dos Bombeiros, numa explosão de ritmo, poesia e excelentes encontros!
Parece óbvio falar e recapitular parte disso tudo e o fato de que acontecem muitos eventos artísticos e culturais em Santa Maria e etc, etc, etc. Mas nunca é muito relembrar, ainda mais que o ano está quase no fim e assim, quem sabe, haja uma abertura para uma maior sensibilização e empatia com os e as artistas, que continuam trabalhando e já estão fazendo os preparativos para o ano de 2019 na região.
Para que as cortinas abram e as luzes do palco acendam, é preciso entender, mesmo que minimamente, que o trabalho artístico não para. Pois a arte é processual e constante, é o que move as esperanças dos e das artistas e da sociedade. Mesmo que as condições de trabalho e de acesso à arte sejam tão árduas aqui no país, em comparação a outras realidades, eis aí a necessidade da arte e da educação. Para que uma pátria não seja submissa e cativa. Pela emancipação do ser. Todo dia é um dia novo. Todo mês é um mês novo. Todo ano é um ano novo, de descobertas e redescobertas, numa dedicação que não para, de aprendizado. E, por que não, de cidadania.
Para quem desconhece as Leis de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet ou, até mesmo, o funcionamento das plataformas virtuais de financiamento coletivo e a dinâmica de trabalho de quem compartilha a sua arte através de parcerias e contratos diretos, talvez este seja um bom momento para entender mais e renovar as ideias. Afinal, janeiro é quando muitos editais são abertos, mês no qual os projetos começam a sua germinação, feita de forma minuciosa, criteriosa e à base de muito trabalho contínuo, nos mínimos detalhes. No início de 2019, inclusive, já será divulgado o resultado dos projetos selecionados pelo Edital de Apoio à Produção Artística e Cultural de Santa Maria, uma parceria entre o estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Santa Maria.
Quem nunca ou pouco teve atenção às prestações de contas para o município, para o estado e para o Governo Federal, talvez esta também seja a oportunidade para aprender com os e as artistas, que respondem com muito trabalho e contrapartidas para cada centavo investido em seus projetos. Cada compra de alfinete precisa ser comprovada em nota fiscal. E os malabarismos feitos para adequar as planilhas de custos acabam até mesmo por fazer com que os e as artistas reduzam seus ganhos financeiros, para que a sua arte possa acontecer. Editais e Leis de Incentivo à Cultura não são doações, pois o que se oferece é um trabalho, para um público consumidor e fruidor, com a participação de pessoas que desenvolvem suas propostas e fazem girar uma economia. E, como bem afirmou a antológica atriz Fernanda Montenegro, os e as artistas não são responsáveis pela corrupção no Brasil.
E, a exemplo do Carnaval, tão esperado por brasileiros e brasileiras, mas também estigmatizado, inclusive com a expressão popular de que as coisas só funcionam no país depois dessa grande festa, não haveria de ser diferente. Para fazer um Carnaval de rua acontecer, fato que não tem sido possível em Santa Maria nos últimos anos, estão envolvidos e envolvidas não somente artistas, mas também as pessoas que vendem água mineral, o milho cozido com manteiga derretida, socorristas, seguranças, pessoas encarregadas da limpeza. Ou seja, uma economia que se estabelece em torno do Carnaval, da arte e da cultura. Arte e cultura que, por sua vez, não são gastos, mas sim investimentos.
Mas, como todo Carnaval tem seu fim e ainda estamos falando sobre 2018, com 2019 quase batendo à porta, não custa relembrar que o ano novo é agora! É sempre! E todos os dias, especialmente nos mais difíceis! E, vale ainda relembrar, que está em tempo de destinar o Imposto Predial e Territorial Urbano - o IPTU - para projetos artísticos e culturais daqui de Santa Maria, sim!
Há muito o que se fazer e um horizonte de maravilhas para compartilhar na cidade e suas diversas comunidades, mas também é preciso haver uma atenção no olhar e na escuta, e uma empatia com o trabalho artístico. Tal como uma avaliação prática do que se realiza em Santa Maria. E os e as artistas estão e estarão aí, todo dia, toda hora, em qualquer lugar, insistindo. Esses e essas artistas, que estarão construindo todo dia um dia novo, até a virada de 2020, e assim sucessivamente, vida afora.
Está escrito nas estrelas!
Então, um feliz ano novo, um feliz dia novo para todos e para todas, sempre!